sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Programação Oficial

2ª Semana da Consciência Negra 

Programe-se, prestigie. 


Programação Oficial
2ª Semana da Consciência Negra de Joinville
De 16 a 27 de novembro de 2010

Dia 16 (terça-feira)

Entrega de livros
14 horas
- Entrega da coleção de livros “A África está em nós” a todas as escolas da rede Municipal de Ensino Fundamental e Ensino Infantil, adquirida pela Secretaria de Educação.
Palestrante: Jeruse Romão – Autora do livro “Africanidades Catarinenses”
Público: Professores da Rede Municipal
Local: Colégio Bom Jesus Ielusc (Centro)
Exposições

De 16 a 19 (terça a sexta)

- Exposição do Instituto Afro de Joinville.
Local: Instituto Federal de Educação  (IFSC) - CAMPUS DE JOINVILLE (Rua Pavão – Antigo Cefet – Costa e Silva)

- SEMANA DO IFSC - INCLUSÃO SOCIAL E IGUALDADE - AÇÕES AFIRMATIVAS

- Durante a Semana as escolas Públicas Municipais e Estaduais estarão expondo trabalhos realizados pelos alunos em todas as áreas do conhecimento, alusivos a semana. 

Dia 17 (quarta-feira)

16 horas - Entrega do Manifesto do Povo de Santo à Câmara de Vereadores e uso da Tribuna Livre.

Encontro Negras Memórias17 horas - Apresentação do Grupo de Capoeira Beribazu
Local: Estação da Memória

Exposição fotográfica e trabalhos dos alunos das escolas municipais
Local: Estação da Memória


17 a 21 de novembro

Exibição de Filmes
Os filmes serão exibidos no Museu Nacional de Imigração.
Terça a sexta-feira, das 9 às 17 horas
Sábado e domingo, das 12 às 18 horas

 “Diálogos contra o Racismo e Onde Você Guarda o seu Racismo?” Produtora Terra Vermelha Filmes. (Dias 17, 18, 19, 20, 21) ; “Uma Princesa Negra na Terra do Marabaixo.” Direção: José Reis Filho. Série DOCTV. Tv Cultura, Secretaria do Audiovisual, Ministério da Cultura (Dias 18, 21); “Comunidade Invernada dos Negros (Campos Novos/SC). Referências Culturais Quilombolas.” Coordenação Geral: Vânia Cardoso (PPGAS/UFSC), Coordenação de Pesquisa Raquel Mombelli, Superintendência Regional do IPHAN Santa Catarina – Brasil, 2008 (18); “Comunidade São Roque (Praia Grande/SC). Referências Culturais Quilombolas.” (19); “Capoeira. Patrimônio Cultural do Brasil.” IPHAN, Ministério da Cultura (20), “Tambor de Crioula. Patrimônio Cultural do Brasil.” IPHAN, Ministério da Cultura (21).


17 (quarta-feira) a 5 de dezembro
ExposiçãoAbertura da Exposição Comunidades Negras de Santa Catarina.
Local: Museu Nacional de Imigração e Colonização.
Entrada Franca


Dia 18 (quinta-feira)

Exibição de Filmes no Museu Nacional de Imigração
“Diálogos contra o Racismo e Onde Você Guarda o seu Racismo?”
“Uma Princesa Negra na Terra do Mar abaixo.”
(Ver programação de 17 a 21 de novembro)


Dia 19 (sexta-feira)
10 horas - Entrega de Flores no Cemitério do Imigrante

15 horas – Projeto da Costa Africana à Costa Brasileira.
Local: ACCAIA. Rua: Arildo José, S/N, Itinga.

17h30 - Lavagem da Praça da Bandeira com Grupo Afoxé.

Dia 20 (sábado)

Estação da Memória

Apresentações Culturais, Feira de Arte e Artesanato e Mercado de Pulgas
9h30 – Dança com a Escola Municipal Laura Andrade
10 horas – Grupo de Capoeira Nossa Ginga
10h30 – Criação do mundo na tradição Iorubá? – Grupo de Teatro Lucas Davi
11h45 – Desfile de Moda Africana
12h - “GOPAK”, com o bailarino Diego Cunha - Homenagem da Escola do Teatro Bolshoi à Semana.
12h30 – Roda de samba do FIO e amigos
14 horas - Ana Paula da Silva – apresentação musical
15 horas - Grupo de Hip Hop Inclusivo da Juliana Crestani
15 horas – Catumbi Mirim
15h30 - Grupo de Maracatu
15h30 – Projeto da Costa Africana à Costa Brasileira
16 horas - Apresentação do Grupo Afoxé
17 às 18h30 - Escola de Samba Serrinha e Escola de Samba Príncipes encerram o evento
Durante todo o dia haverá oficina de tranças com Nara.

2ª Edição do Afrocult 
Show Nacional com Marcelinho Moreira (RJ) – participação especial do Paulão;
Desfile de Moda.
Local: Kenia Clube. Rua Botafogo.
21 horas.


Dia 21 (domingo)

Projeto “A Rua Ensina” - CUFA
Atividades Culturais - Basquete de rua, show de rap e outras.
Local: Ginásio Ivan Rodrigues
10 às 18 horas

De 22 a 26 Cine Ilê Axé Iya Omilode/Casa da Vó Joaquina
Local: Rua Erivelton Martins, 669, Adhemar Garcia
Informações: 3426-6601

De 22 a 276º Festival Cultural Beribazu (Capoeira)
Local: Praça Nereu Ramos
Informações: 3029-2475 e 9127-8133

Artigo sobre a Semana da Consciência Negra


Semana da Consciência Negra de Joinville de 17 a 20 de novembro de 2010


Sonia Regina Lourenço [1]


A importância deste tempo social voltado ao tema das culturas negras e suas diferentes formas de expressão e celebração é uma forma da sociedade se dedicar a pensar a si mesma e a pensar no outro. A Semana da Consciência Negra, comemorada no dia 20 de novembro, cada vez mais passa a integrar com maior força e participação dos brasileiros uma cadeia de eventos e celebrações que buscam construir uma sociedade em que prevaleça o direito à diferença e o direito à igualdade de condições sociais, culturais, políticas e os direitos à cidadania.


Embora pareça que as lembranças e as memórias das populações e grupos sociais que viveram e/ou ainda vivem em situação de silêncio ou excluídas dos espaços culturais e da escrita da história, elas permanecem vivas nas narrativas, nas canções, na oralidade, na religiosidade, no parentesco, nos territórios e nas identidades culturais. Um dos principais fatores que contribuiu para a crença de que vivemos uma democracia racial foi a ideologia do branqueamento, na passagem do Governo Imperial para a Primeira República e a suposta substituição total da mão-de-obra escravizada dos negros para o trabalho dos imigrantes, fortalecendo a condição de invisibilidade dos negros no Sul do país. Durante os séculos XVIII e XIX, esta ideologia operava pela negação da presença de outras populações negras e indígenas num suposto “vazio demográfico” na região Sul e Sudeste do Brasil, tal como a Marcha para o Oeste que procurava colonizar as terras indígenas de Mato Grosso, Vale do Rio Araguaia, Goiás, entre outros estados. As idéias de desenvolvimento, progresso e branqueamento foram articuladas por meio de artigos e livros “científicos” como de Silvio Romero, Nina Rodrigues, Oliveira Vianna entre outros. Na crítica desta ideologia, Boaventura Leite (1986: 40) identifica nos textos da historiografia sobre o sul do Brasil um discurso subjacente sobre duas “especificidades” que diferenciariam esta região do restante do país: “o negro teve e tem presença rara, inexpressiva ou insignificante e atribui a isto a ausência de um grande sistema escravista voltado para a exportação”, e que em determinadas áreas e atividades as relações foram mais “democráticas e igualitárias”. Tal discurso vai galvanizar uma imagem para a região sul brasileira de Europa à brasileira, a região mais branca do país, e, portanto, mais desenvolvida e progressista que o norte e nordeste, inviabilizando, assim, políticas públicas para a população negra e indígena, e colocando-os à margem do reconhecimento cultural como sujeitos identitários e históricos. Mas este sujeitos resistiram de diferentes formas, nos terreiros de Candomblé, nos movimentos negros, nas 3 mil comunidades quilombolas por todo o Brasil, e nos mais de 200 povos indígenas da América do Sul.


Embora a historiografia aponte que as atividades exportadoras da ‘plantation’ ou da mineração nos séculos XVIII e XIX dispensassem a mão-de-obra escrava, não significa a inexistência dela; pois, a dependência do trabalho escravo tanto nas armações baleeiras, na produção de açúcar e de farinha dos engenhos, nos curtumes de couro, na criação de gado, na indústria extrativista, na religiosidade de matriz africana, na agricultura, na colaboração em construir e defender os fortes, trabalhando para os funcionários de governos e suas famílias, nos serviços de navegação e cabotagem, assim como nos serviços domésticos prestados às famílias não só mais abastadas economicamente mais àquelas de poucas posses foram constituidoras do estado de Santa Catarina.


O discurso da invisibilidade do negro gera o dispositivo da negação da diferença, da negação do outro, portanto, das alteridades e das identidades. Como produto desta negação, afirma-se uma suposta democracia racial em que todos convivem em plena harmonia sem se contaminar pelos gestos, discursos e práticas de racismo, desigualdades e violências. Nas últimas décadas de pesquisas, constata-se como se constrói a história cultural de diferentes sujeitos identitários e suas linguagens simbólicas, as memórias, as subjetividades e o patrimônio cultural de negros, índios, agricultores familiares descendentes de imigrantes, os processos de exclusão e inclusão social a partir das interpretações do presente, considerando que estes sujeitos nunca foram e, nunca serão uma totalidade homogênea.


A sociedade brasileira pode se pensar como democrática e igualitária ou ainda estar em busca desta condição. Entretanto, a pesquisa de Lilia Moritz Schwartz (2001) é emblemática de como cada brasileiro se pensa como “uma ilha de democracia racial” ao afirmarem que não são racistas, enquanto o vizinho, o primo ou o cunhado o são. Para além das classificações nativas de cor que são inúmeras, o racismo existe socialmente nos regimes discursivos que operam como dispositivos de hierarquização, de naturalização das diferenças e das desigualdades sociais, de violência e crime. A raça como um conceito biológico que explicaria as diferenças culturais deixou de ser há décadas, um modelo científico explicativo válido. No entanto, nunca deixou de existir no discurso social. As práticas de racismo se estabelecem no dia-a-dia, dentro do espaço escolar, do trabalho formal e informal, nos movimentos que pregam a separação do sul do restante do país, na presença de grupos neonazistas que utilizam as redes sociais para divulgaram suas idéias separatistas e violentas, na pouca participação dos negros em cargos executivos e de direção tanto no mercado de trabalho quanto nos espaços da política.


No âmbito da educação, há segmentos da sociedade brasileira que não reconhecem a importância das cotas e a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena no ensino fundamental e médio, porque acreditam que isso seria a produção de uma racialização do Brasil. Este discurso encontra-se baseado na ideologia de que o Brasil é o país da “democracia racial” e da “mestiçagem”. Estudar a diáspora africana e o processo da imigração compulsória, é propiciar à juventude brasileira, as condições reais para a compressão da diferença e das identidades. Mais que isso, a construção de uma educação cidadã que priorize os direitos humanos, se dá com a consolidação de políticas públicas, como a promoção da igualdade racial para a população negra, indígena, cigana, judeus, entre outros, que façam valer a igualdade de direitos de nossa Constituição Federal de 1988 e do Estatuto da Igualdade Racial aprovado como Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 (http://www.portaldaigualdade.gov.br/estatuto-da-igualdade-racial).


As pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do IBGE têm apontado o impacto do racismo na qualidade de vida da população negra e revelando a ideologia da “democracia racial” brasileira. Todos os dados analisados no estudo do IBGE “Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das Condições de Vida da População Brasileira”, publicado em 2007, a desigualdade persiste entre brancos e negros. O estudo revela que entre os 10% mais pobres – na faixa etária de 10 anos ou mais – com rendimento de trabalho, o percentual de brancos era de 26,1% e de 73,2% para pretos e pardos. Já entre o 1% dos mais ricos, 85,7% eram brancos e 12,4%, pretos ou pardos. De fato, a democracia no espaço público, se alcança nos avanços na consolidação de políticas públicas reais ao povo brasileiro.


A semana da Consciência Negra busca não só discutir sobre o quanto ainda há de racismo na sociedade brasileira, mas, pensar junto com a sociedade civil, políticas públicas que contribuam para uma vida em sociedade que respeite à diferença do outro sem excluir o direito à igualdade de condições. Por isso, convidamos a cidade para darmos início ao diálogo, ao encontro, à reflexão e à mobilização com o objetivo de construir visibilidade e espaços das memórias de negros constituidoras da história social e cultural da cidade de Joinville, pois Joinville também é negra.


A programação da Semana da Consciência Negra inicia dia 16 de novembro, as 14h00 no auditório do Colégio Bom Jesus/IELUSC, com a entrega de Kits e livros didáticos para todas as unidades da rede pública municipal. Acompanhada de palestra da Profª Jeruse Romão, autora do livro Africanidades Catarinenses e África está em Nós.


No dia 17 de novembro, 17h00, realizar-se-á o segundo Encontro Negras Memórias e apresentação do Grupo de Capoeira Beribazu na Estação da Memória. O Museu Nacional de Imigração e Colonização vai exibir a partir do dia 17 uma série de documentários e vídeos sobre as culturas negras e o racismo no Brasil, com a abertura e retorno no dia 18, da exposição: Comunidades Negras de Santa Catarina: territorialidades e identidades quilombolas de São Roque, Invernada dos Negros e Valongo, localizadas no estado de Santa Catarina.


Ainda durante a semana, haverá a entrega do Manifesto do Povo de Santo de Joinville à Câmara de Vereadores reivindicando um espaço de mata e rios para o culto aos Orixás, a garantia se segurança pela vida, entre outras reivindicações. Em uma ação articulada, dia 19, as 17h30, O Povo de Santo e o Grupo de Afoxé Omilodê farão a Lavagem com Folhas Sagrada do Monumento ao Imigrante na Praça da Bandeira.


Dia 20, na Estação da Memória, haverá uma série de apresentações culturais de samba, capoeira, Maracatu e Grupo de Afoxé, feira de arte, artesanato e Mercado de Pulgas. 
 
Para mais informações, acessar o blog http://comiteigualdaderacialjoinville.blogspot.com/.


[1] Antropóloga, Coordenadora do Museu Nacional de Imigração e Colonização, integrante do Comitê Gestor de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CGPPIR), Prefeitura Municipal de Joinville.