quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Homenagem para os negros sepultados no Cemitério do Imigrante

A 2ª Semana da Consciência Negra terá um momento especial na manhã desta sexta-feira (19/11). Às 10 horas, a Prefeitura de Joinville homenageará, com a entrega de flores, a memória de negros escravos que estão sepultados no Cemitério do Imigrante, uma forma de reconhecer a importância dos negros para a construção da cidade.
A homenagem a essas pessoas já foi feita no ano passado, durante a 1ª Semana da Consciência Negra. O cemitério foi o primeiro espaço público para sepultamentos e recebia católicos e luteranos de diferentes etnias, como mostram estudos recentes. Segundo pesquisa realizada pela Fundação Cultural de Joinville, 14 negros estão sepultados no Cemitério doImigrante.
As flores serão entregues por dois representantes do movimento negro de Joinville. O presidente da Fundação Cultural de Joinville, Silvestre Ferreira, também fará a leitura dos nomes dos 14 negros que estão enterrados no local.
A programação segue às 15 horas, na Accaia (Associação de Caridade e Culto Afro Abassá de Inkisse Nzazi), quando será apresentado o Projeto da Costa Africana à Costa Brasileira. A Accaia fica na rua Arildo José, s/n, bairro Itinga.

Lavagem da escadaria do Monumento ao Imigrante - Praça da Bandeira
Às 17h30, ocorre outro momento importante da 2ª Semana da Consciência Negra. É a lavagem da escadaria do Monumento ao Imigrante, na Praça da Bandeira. A promoção é do Povo-de-Santo de Joinville e região (adeptos e simpatizantes das religiões afro-brasileiras).
Como explica o coordenador do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, Gerson Machado, "o ritual é uma manifestação religiosa pública de caráter ecumênico - por incluir membros de religiões como o Candomblé, Umbanda, Almas e Angola, entre outras - inspirada na famosa Lavagem das Escadarias do Bonfim de Salvador, na Bahia. A proposta do Povo-de-Santo de Joinville é tomar um monumento público dedicado à memória da imigração e acrescentar um sentido simbólico a mais ao mesmo, ou seja, os negros e a sua cultura, representada pela dimensão religiosa. Nesse sentido, é um ato inclusivista que busca o reconhecimento da participação da população negra na construção histórica e cultural do Estado de Santa Catarina", explica Gerson Machado.

"O ritual tem um caráter purificador, já que a lavagem aromática e sagrada advinda da água de cheiro, feita de diferentes folhas e flores, carregada em vasos (potes) por filhas de santo, ao som dos atabaques e cantigas rituais, tem também o sentido de 'lavar' a cidade do preconceito racial, religioso, econômico, de gênero, entre outros", observa o pesquisador.

Confira quem são os negros enterrados no Cemitério do Imigrante:
1 - FAUSTINO - escravo de João Gomes d´Oliveira, da Freguesia do Sr. Bom Jesus do Paraty. Falecido em 31/07/1862, na casa do médico Wigando Engelke.
2 - ANDRÉ - escravo de João Leite Basto. Falecido em 18/03/1863, com 2 anos e 6 meses, de pneumonia.
3 - JOANNA - filha de Valentina, escrava de Luiz Budal Arins, morador do Cubatão Grande. Falecida em 01/01/1864, com 4 meses, de febre.
4 - MARIA - filha da liberta Joanna Lourença. Falecida em 14/12/1864, com 18 anos, de tísica (tuberculose), no Cubatão Grande.
5 - MANUEL - filho de Ignacia, escrava de Manuel Gonsalves d´Oliveira. Falecido em 07/01/1865, com 1 ano e 6 meses, de sarampo, na Estrada Santa Catarina.
6 - DOMINGOS - filho de Ignacia, escrava de Manuel Gonsalves d´Oliveira. Falecido em 23/01/1865, com 1 ano e 6 meses, de febre, na Estrada Santa Catarina.
7 - EVA - escrava de Bento Gerhardo Moreira. Falecida em 13/03/1866, com 1 ano e 6 meses, de Atrophia mesaraica.
8 - SALVADOR - filho de Ignacia, escrava de Manuel Machado d´Oliveira. Falecido em 05/10/1866, com 3 meses, de febre, na Estrada Santa Catarina.
9 - MARIA - escrava de João Leite Basto. Falecida em 19/12/1866, com 30 anos, de metrite.
10 - TERESA - liberta de Augustinho Budal. Falecida em 16/10/1867, com 45 anos, de febre nervosa, no Rio Riacho.
11 - MARTINHO - filho da liberta Germana. Falecido em 15/05/1868, com 2 meses e 12 dias, "da moléstia de fígado bravo", no Rio Riacho.
12 - SALVADOR - filho de Maria, escrava de Lourenço José de Braga, morador do Rio Riacho. Falecido em 22/03/1869, com 1 dia, morte natural.
13 - PRASIDO - escravo de Gaspar Gonsalves de Araújo. Falecido em 29/05/1869, com 5 meses, de héctica, no Cubatão Grande, distrito da freguesia de Nossa Senhora da Glória do Sahý.
14 - DAMASIO RODRIGUEZ - solteiro, natural de Paranaguá, morador da Ilha dos Espinheiros. Falecido em 27/07/1870, com cerca de cinqüenta anos, de tísica (tuberculose).

FONTE: dados extraídos do "Livro de Assentos de Óbitos Católicos da Freguezia de São Francisco Xavier de Joinville (1858 - 1875). Livro nº 1". Anotações do Padre Carlos Boegershausen.